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Dizer que o mercado de software é um grande negócio, é
algo que não necessita de justificativa. É um mercado amplo,
onde cabe a justa competência, ao mesmo tempo em que é necessária
uma ética forte, para não se cair em práticas de
monopólio, ou lucrativas.
Normalmente, instalamos em nossos computadores um software pelo qual não
pagamos; um software que algum amigo copiou para nós, ou que baixamos
pela internet.
Essa prática, tão comum, se converte em pirataria e em violação
das leis dos direitos autorais, cuando o software que copiamos tem direitos
de propriedade. Exemplo: sistemas operacionais do Windows, pacote do Microsoft
Office, programas de retoque fotográfico, tal como o Photoshop...
No caso do software que tem direitos de propriedade, seu uso, redistribuição,
ou modificação, estão proibidos.
Quanto mais benefício tiramos desse software pelo qual não
pagamos, e que tem direitos de propriedade, maior é o delito ou
a incongruência ética. Respeitar o copyright é um
dever ético e cívico, mas se converte numa injustiça
quando temos de pagar exageradas quantias por programas imprescindíveis
como o sistema operacional, ou sistemas de alta necessidade, como os processadores
de texto. Outro inconveniente é que, se sou programador, não
poderei retocar o código do programa que adquiri, pois não
tenho licença para tanto. E não nos pareceria uma injustiça
se, ao comprarmos um carro, nos fosse proibido pintá-lo de outra
cor, ou mudar o equipamento de som...?
O aumento massivo da pirataria justifica-se, em parte, pelo alargamento
da brecha digital. Cada vez se depende mais dos computadores e dos software.
E cada vez são mais as pessoas que não podem se permitir
o luxo de pagar as licenças dos software que utilizam.
Contudo, isso não pode ser uma justificativa para a pirataria,
pois atentamos contra os princípios do mercado que permitiram que
esse software viesse à luz. Se todos pirateamos uma empresa, acabamos
por prejudicá-la, a obrigá-la a aumentar seus preços,
ou ir à falência e deixar de produzir esse software que nos
interessa. A pirataria também prejudica o software livre
(do qual falarei mais adiante), aquele pelo qual não é preciso
pagar, pois enquanto pirateamos o software que tem direitos de propriedade,
não necessitamos do livre, e prejudicamos seriamente a criação,
o uso e o aperfeiçoamento dos programas de livre distribuição.
A pirataria existe há muitos anos. E é a melhor propaganda
de sistemas operacionais como o MS-Dos e o Windows, ou o pacote MS-Office,
sobre a qual a Microsoft fez vista grossa, sabendo que era a melhor forma
de captar clientes que, cedo ou tarde, acabariam conquistados pelo produto
e teriam de pagar por ele.
A pirataria não pode ser a resposta para a brecha digital. Devemos
evitá-la na medida do possível, primeiro em nossos computadores
e em seguida em nosso trabalho, empresa, escolas, repartições
públicas...
A escravidão tecnológica: práticas de monopólio
A escravidão tecnológica é a sujeição
excessiva a que acabamos submetidos, ao utilizar certas marcas de computadores
ou componentes, ou certo software.
A escravidão será maior, à medida em que a empresa
tenha menos ética, busque mais lucros e, portanto, pratique mais
o monopólio: pressionando os fabricantes de hardware para que seus
equipamentos utilizem os produtos que fabricam; inundando as universidades
com licenças a baixo custo, para forçar uma educação
baseada em seus produtos; subornando os professores e responsáveis
pela implantação do software nessas mesmas universidades,
nas grandes empresas e nas entidades públicas; realizando a compra
massiva de pequenas empresas ou de produtos emergentes que possam significar
uma ameaça a sua hegemonia... Isso para não falar de delitos
maiores, como o roubo de código, ou a clonagem de outro software,
maquiando-o; ou ainda intimidando a pequena empresa e os programadores.
Sem dar exemplos concretos de empresas que realizam, ou que tenham sido
acusadas de realizar essas práticas escravizantes, todos podemos
dizer que, de certo modo, vivemos escravizados por alguns dos programas
que usamos.
Um exemplo: muitos de nós utilizamos, há anos, o Wordperfect
como processador de textos. E, com o passar dos anos, quase todos acabamos
formulando a mesma questão: Como vou utilizar o Wordperfect, se
todo mundo utiliza o Word? E mesmo pensando que o primeiro é melhor,
nos vemos obrigados a mudar para o segundo, porque o mercado (ou as práticas
de monopólio de certa empresa) assim nos impõe. Chegamos
a crer que não havia alternativa e que o mundo dos processadores
de texto se reduzia ao Word.
Entretanto, a alternativa existe; cada vez ganha mais força e se
chama Software livre. E hoje representa uma verdadeira ameaça às
empresas de software que submetem seus clientes a seus produtos; uma verdadeira
libertação, que pode reduzir o abismo que a brecha digital
está criando.
Software livre: a ciber-sociedade altruísta
Permaneceremos atados para sempre ao software que tem direitos de propriedade,
a suas imposições restritivas, a sua baixa qualidade e alto
custo? Acaso não existirá outra alternativa, nesse mundo
infestado de avanços tecnológicos? E, se existe uma alternativa,
é possível que ela reduza a brecha tecnológica?
Sim, é possível, e hoje essa possibilidade reside na Fundação
do Software livre, da qual usufruem muitas comunidades de programadores
altruístas, que de forma cooperativa compartilham suas idéias,
programas, e aperfeiçoam o código de outros numa comunhão
total de bens, em benefício e igualdade para todos.
Software livre se refere à liberdade dos usuários
para executar, copiar, distribuir, estudar, alterar e aprimorar o software.
De modo mais preciso, se refere a quatro liberdades dos usuários
do software para: usar o programa com qualquer propósito; estudar
como funciona o programa e adaptá-lo a suas necessidades; distribuir
cópias, de modo que possa ajudar ao próximo; aprimorar o
programa e tornar públicas essas melhorias, de modo que toda a
sociedade se beneficie. O acesso ao código-fonte é um requisito
prévio para isso.'
Sistema operacional LINUX: o centro do furacão
O que é Linux? É a ponta do iceberg de um movimento altruísta
que altera a forma pela qual se criam os programas. A busca do benefício
econômico é relegada pelo desejo de contribuir com algo útil
para a comunidade.
Linux é o núcleo de um sistema operacional, ou seja, a mãe
de todos os programas. É a aplicação que conduz ao
resto, como faz o Windows nos PCs, ou o MacOS nos Macintosh. Mas o Linux
é livre. Qualquer pessoa pode copiá-lo, presenteá-lo,
distribuí-lo ou aprimorá-lo e, inclusive, vendê-lo,
mas sempre às claras, para que os outros também possam
copiá-lo, presenteá-lo, distribuí-lo ou aprimorá-lo.
Por isso muitos crêem que Linux é gratuito, quando
o termo correto é livre. Os programas comerciais são
vendidos lacrados. E o usuário, afora a boa fé, não
tem meios para comprovar o que realmente fará o programa, uma vez
instalado.
Linux, e todos os programas que foram criados de acordo com a filosofia
do software livre, tem o código fonte (o interior) à vista,
para que qualquer pessoa possa comprovar seus fundamentos e, caso goste
deles, utilizá-los no todo ou em parte, para elaborar outras aplicações.
Dessa maneira evita-se reinventar constantemente a roda, como ocorre com
as aplicações ao uso, nas quais os programadores devem sempre
começar do zero.
Por esse motivo o Linux é um sistema operacional que cresce dia
a dia, com a contribuição desinteressada de usuários
do mundo inteiro, que encontraram na Internet o caminho perfeito para
trabalhar em equipe, apesar dos milhares de quilômetros e fusos
horários que os separam. Atualmente o Linux é, segundos
os experts, a única alternativa sólida contra a posição
de hegemonia que o Windows da Microsoft mantém na grande maioria
dos computadores pessoais.
Mas o Linux, apesar de ser a marca mais conhecida do software livre,
é só o coração do sistema. A seu redor foram
criados muitos outros programas, perfeitamente equiparáveis aos
pagos. Alguns exemplos: Open Office, um conjunto de programas que inclui
um processador de textos como o Word, página de cálculos,
um criador de apresentações no estilo Powerpoint... O XMMS
reproduz música como o Microsoft Media Player; o Gimp retoca fotografias
como o Photoshop; o Evolution faz as vezes do Outlook.
Como passar a usar o Linux, sendo usuário do Windows
Veja as instruções para fazê-lo, acessando uma versão
muito mais ampla deste texto no endereço indicado na margem direita.
Ali você encontrará, também, as conexões recomendadas
para completar amplamente esta informação sobre o software
livre, sites onde baixar o programa...
É possível um outro mundo. Utilize software livre!
O software livre ganha mais força a cada dia. Pouco a pouco
os governos começam a implantá-lo nas administrações
públicas, apesar das constantes pressões da Microsoft para
impedi-lo.
No Peru temos o exemplo do congresista Edgar Villanueva, que ante sua
firme decisão de que as administrações públicas
utilizem o software livre, se viu fortemente atacado pela Microsoft.
A Argentina também parece querer endossar esse movimento. E também
várias administrações na Espanha, tal como a andaluza
ou a valenciana. E o governo brasileiro já começa a implantá-lo
seriamente...
Decididamente, o software livre avançará, com o apoio
dos governos e da sociedade civil. Hoje mesmo você pode começar
a colaborar na construção de um mundo diferente... Endossando
o movimento do software livre.
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