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Por que nos opomos à ALCA? Muitos pensam, ingenuamente,
que a ALCA trará grandes benefícios econômicos para
os nossos países, uma vez que podemos colocar nossos produtos,
sem os embaraços, sem barreiras de nenhuma classe, em todos os
países do hemisfério. Também chegarão até
nós, livremente, os produtos estrangeiros e, principalmente, os
capitais, gerando o emprego e dinamizando nossa economia. É uma
versão modernizada de o encontro das leiteiras!!!
Não dizemos que não temos que caminhar até uma verdadeira
integração hemisférica, já que nenhum país,
agora menos que nunca, pode viver isolado. As forças do mercado
e as exigências, cada vez mais desafiadoras da competitividade,
nos levam até uma integração com os países
da área. No entanto, o que a ALCA nos propõe, não
é uma autêntica integração, mas uma incorporação
ou absorção por parte das poderosas multinacionais dos EUA.
O governo dos EUA vê e concebe a ALCA desde uma perspectiva e de
interesses próprios, emergentes do mundo atual. A ALCA é
uma Doutrina Monroe atualizada e adubada com globalização.
Somente unidos, todos os países da Região poderão
ter uma força necessária para obter que se eliminem da ALCA
uma série de objetivos e propostas que se opõem aos direitos
e os interesses mais elementares de nossos povos.
A posição dos EUA frente a ALCA é muito clara, foi
o que disse, muito explicitamente, o Secretário de Defesa, Collin
Power: "Nosso objetivo com a ALCA é garantir, para as empresas
norte-americanas, o controle de um território que vá do
Pólo Ártico até a Antártida, de modo que haja
um livre acesso, sem nenhum obstáculo ou dificuldade, em todo o
hemisfério, a nossos produtos, serviços, tecnologia e capitais".
A ALCA, portanto, é um projeto recolonizador, que não se
limita a impulsionar a liberdade irrestrita do mercado e o livre movimento
de capitais, mas que, impulsionado pelas grandes empresas multinacionais,
busca o controle hemisférico através do domínio sobre
todos os recursos, seres humanos e naturais, da Região.
Se algo deveria ser debatido aberto e claramente em todos os países
da América Latina é o tema da ALCA, já que, se aceitássemos
tal e como está concebido e expresso pelo Governo dos EUA, chegaria,
não somente a condicionar o desenvolvimento econômico e social
da região, mas também prejudicar seriamente a soberania
de nossos países.
Assumindo a ALCA a partir de uma atitude crítico-positiva, me permito
a apresentar algumas idéias que poderiam servir como base para
o diálogo.
Há alguns que opinam que a luta contra a ALCA pode chegar a ser
um elemento aglutinador e dinamizador, de modo que desperte, no nível
de toda a região, uma grande corrente, integradora e nova, a nossos
governantes e a toda a opinião pública, até a uma
verdadeira união e integração. Algo muito positivo,
embora esteja ainda por confirmar-se, é o chamado Acordo
sobre Cidadania, firmado há três meses na cidade de
Salvador, na Bahia.
Um processo da integração da América Latina não
pode ficar limitado à "união dos mercados". Deve
estar aberto a imperativos políticos, sociais, culturais e ambientais.
A proposta da ALCA é puro economicismo.
- A ALCA considera o capital transnacional como o poderoso motor de toda
a economia, ao livre mercado, como o meio eficaz, e ao máximo lucro
das multinacionais, como finalidade última. Não obstante,
não todas as coisas têm um valor comercial. Muito pelo contrário,
os valores mais importantes, na vida das pessoas e dos povos, não
se podem e nem se devem comercializar. O Papa João Paulo II diz
em sua encíclica Centéssimus Annus: "Existem necessidades
qualitativas que não se podem ser satisfeitas por meio dos mecanismos
do mercado. Há exigências humanas muito importantes que escapam
a sua lógica; há bens que, por sua natureza, não
se podem nem se devem vender ou comprar (CA 40)
- O falso internacionalismo da ALCA terá como efeito imediato conseqüências
muito graves, sobretudo em relação à violência,
uma vez que propunha um crescimento econômico totalmente assimétrico:
poucos sairão privilegiados, mas muitos, a imensa maioria da população,
serão marginalizados e excluídos.
Portanto, aumentará, ainda mais, a brecha injusta que divide as
Américas, uma vez que a ALCA sacraliza a competitividade e condena
a solidariedade e a eqüidade. Para a ALCA, justiça social
não existe. Somente vai triunfar (é a filosofia da ALCA)
quem pode e merece triunfar. O que não pode competir, seja como
pessoa ou povo, está condenado à exclusão e à
dependência.
O individualismo e a competitividade sobre os quais está baseada
a ALCA é profundamente antidemocrático e anticristão.
Tudo o projeta a partir de uma perspectiva não humanista nem ética,
mas egocêntrica e utilitarista. O projeto hemisférico da
ALCA está na contra-mão do espírito e dos valores
do Evangelho e em total contradição com os princípios
básicos da Doutrina Social da Igreja.
Nos parecem positivos alguns avanços que foram obtidos na Cúpula
dos Ministros do Comércio, realizado na cidade de Quito nos primeiros
dias do mês de novembro passado.
Questionou-se, como é lógico, a política dos EUA
com relação aos subsídios agrícolas e a outros
produtos como o aço. É evidente que os milhares de milhões
com que os EUA subsidia sua produção está em aberta
contradição com os princípios da saudável
competitividade e com tudo o que propõe a ALCA. Aqui não
existe somente uma linguagem dupla, mas também uma dupla moral.
Não se pode dar nenhum tipo de integração entre economias
tão diferenciadas, como a dos EUA e a da América Latina.
Deve existir, forçosamente, certas medidas e normas claras de compensação.
Mesmo assim, a ALCA não pode desconhecer, e muito menos anular,
os avanços que, com tanta dificuldade, foram ocorrendo na Região,
principalmente através do CAN e do MERCOSUL. Estas instituições
devem ser os espaços onde nossos países, unidos em propostas
básicas, desenvolvam sua capacidade negociadora, e não "um
por um", como querem os EUA.
Um dos aspectos mais perigosos da ALCA é o tema do meio ambiente
e dos recursos naturais. Principalmente, é um atentado contra a
riqueza e o futuro da Região o tema referente à biodiversidade
e aos direitos de patente que querem para si as multinacionais. Muitos
países latinoamericanos veriam com isto ameaçada sua maior
riqueza natural.
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