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É possível chegar a acabar, um dia, o chicote
da tortura? É muito difícil, exceto se conseguir que a população
se conscientize massivamente contra a tortura. E por que isto é
tão difícil? Porque levamos para dentro das pessoas o germe
da tortura, e todos podemos, algum dia, em determinadas circunstâncias,
chegar a ser torturadores. Por exemplo:
Soldados franceses nos anos 50, chegados à guerra da Argélia,
cometem atos que nunca haviam acreditado serem capazes de realizar;
O mesmo, porém no regime de Pinochet no Chile, onde pais
de família, corretos com suas esposas e filhos, chegaram a ser
torturadores em seus trabalhos;
Por qual estranha razão um membro da Resistência Francesa,
que viveu perto de assassinatos de cidadãos executados por soldados
alemães em 1944, pôde, em 1955, na Argélia, ele ordenar
o mesmo assassinato de cidadãos árabes?
É possível um mundo sem torturas? Claro que é possível!
Porém, em primeiro lugar é necessário mudar o chip
da população. Os governos dominam os meios de comunicação,
difundem a idéia de que a tortura é mal, mas não
é tanto quando se aplica aos inimigos. Fazer acepção
aos Direitos Humanos é o primeiro objetivo da ACAT e das ONGs
que lutam pela abolição da tortura.
O dia em que os governantes souberem dialogar com os grupos de oposição,
e primeiro realizem as consultas e o diálogo popular no lugar das
imposições, não será mais necessária
a tortura como meio do governo para reduzir seus opositores ou para arrancar
confissões.
O dia em que os cidadãos e cidadãs forem capazes de reagir
contra a tortura de uma maneira massiva e escutarmos mais as pessoas presas
que denunciam as torturas (os governantes sempre negam que aconteça
em seus serviços de segurança), terá iniciado a erradicação
da tortura.
As torturas, como a guerra, são, talvez, as cicatrizes mais perversas
a erradicar.
Emili Chalaux, Presidente da ACAT Catalunha/Espanha.
ACAT, Ação dos Cristãos para a Abolição
da Tortura, é uma associação ecumênica pela
abolição da tortura e das execuções capitais.
A ACAT-Catalunha/Espanha é membro da Federação Internacional
da ACAT, que tem estatuto consultado perante a ONU, e Conselho da Europa
e a Comissão Africana dos Direitos dos Homens e dos Povos.
Traduzido por Mauro Kano, 7 de julho de 2003.
http://acat.pangea.org
http://www.fiacat.org
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