Agenda Latino-americana’2002, pág. 224-225
CARTA PÚBLICA AOS DONOS DE MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE HONDURAS
Nós, cidadãos e cidadãs de nosso país, profundamente preocupados pela difícil situação que caracteriza a nossa realidade: complexa no produtivo, asfixiante no econômico, incerta no político e desesperada no social, nos dirigimos a vocês, donos de jornais, rádios, televisões e outros meios, para fazer-lhes um chamado urgente, uma recordação de sua função social e o convite para a reflexão sobre o papel que estão chamados a desempenhar nesta hora crítica.
Pedimo-vos
que recordem:
Que cada um de seus meios, desde os grandes aos mais pequenos, tem tanta importância para o país que não podem restringir-se aos interesses de uma empresa.
Que seus meios estão em condições de promover as bases dos valores democráticos. Seu trabalho cotidiano e persistente pode contribuir para adaptar a vida política e social do nosso país às exigências do novo século ou pode retrocedê-la a séculos passados, caracterizados pela intolerância e a perseguição.
Que seus meios devem servir para impulsionar os processos democráticos e não para freia-los ; que seu compromisso com a sociedade, a democracia e a paz deve antepor-se a qualquer outro interesse privado ou político, situação que largamente vem a favorecer seus próprios interesses. Pois viver em paz e democracia é uma ganância para todos.
Que a sociedade está acumulando demasiadas frustrações e desencantos como para dar-se ao luxo de desentender-se deles. É obrigação de todos, particularmente dos meios de comunicação, estar atentos para que os governantes sejam eficientes e transparentes em sua gestão, a fim de que a cidadania siga pensando que a democracia é a melhor forma de governo.
Que seus meios são canais de expressão e canalização do descontente cidadão. Seu cerne parcial ou definitivo às demandas da sociedade pode afetar de tal maneira a governabilidade, que mais cedo ou mais tarde pode revestir-se contra todo o processo democrático.
Que a redução dos espaços que promovem a crítica, o debate, e a prestação de contas aos dirigentes e funcionários, são sinais de retrocesso e evidência clara de uma preocupante aproximação da submissão de seus meios ao poder político.
O que
esperamos de seus meios
Que nos informem sobre o que está se passando no país com objetividade, com verdade, com independência do poder político e sem interferência de interesses econômicos de pessoas ou grupos.
Que manejem a informação com profissionalismo e com um profundo respeito à cidadania, para a proliferação dessa forma grosseira de “jornais” que tantos danos está fazendo à sociedade e do qual vocês, como donos de meios, são igualmente responsáveis.
Que nos informem com responsabilidade sobre o que faz o governo qualquer que seja sua filiação política ; queremos que o façam com os valores de um periodismo profissional, honesto e independente que é a melhor carta de apresentação que têm vocês como donos de meios de comunicação.
Que informem ao governo o que a cidadania sente, pensa e espera dele, igualmente com responsabilidade e profissionalismo, sem manipulações nem deformações, para que o governo tenha a oportunidade de escutar ou ler critérios independentes que o permitam corrigir a tempo os seus erros.
Que joguem um papel determinante na promoção de valores democráticos como o pluralismo, a tolerância, o respeito e a disposição ao debate dos grandes temas nacionais, exercendo-os dentro de seus meios e estimulando-os na sociedade e nos governantes e dirigentes políticos.
Que exaltem as coisas boas e positivas que nos ajudam a ser cada dia melhores e rechacem o confronto infecundo, a linguagem vulgar e grosseira, a intromissão na vida privada e a proliferação da ignomínia.
Que combatam a corrupção que tanto nos tem exibido e a impunidade que tanto nos tem dado, para que contribuam na construção de um país do qual todos nos sintamos orgulhosos.
Que contribuam na promoção de um processo eleitoral transparente, confiável e respeitoso, e à difusão de informação que permita a sociedade inteirar-se da agenda e da oferta eleitoral de todos os candidatos e seu compromisso com a transformação do país.
Que exaltem os valores de um jornalismo profissional, independente e objetivo, que este seja consciente da responsabilidade social dos meios e da importância de manter-se à distância com respeito ao poder econômico.
O que nos
preocupa em vocês:
Que alguns donos dos meios tratam de
iludir sua responsabilidade na difusão de programas daninhos para o
processo democrático e a saúde mental da sociedade, argumentando
que não podem controlar os diretores dos mesmos, porque eles realizam um
pagamento mensal por um espaço de cujo conteúdo se desentendem os
donos com grande facilidade.
Que muitos donos, diretores, e executivos
de meios e programas formam parte do governo, dentro e fora do país, ou
que se mantenham debaixo do manto de notáveis; dualidade que põe
em precário a independência de seus meios e a objetividade e
imparcialidade com que deve ser difundida a informação
periódica.
Que alguns diretores de meios e programas atuem como
guardiães dos interesses oficiais no interior do mesmo, desempenhando
sua missão com uma perigosa intervenção na
independência do meio, chegando, inclusive, a esperar a
autorização governamental para ler um editorial, titular ou
colocar uma notícia e definir ou estender ao primeiro plano, todo ele
com a complacência de seus donos.
Que outros donos de meios pressionam a
seus subordinados para “tratar bem” a um funcionário ou seus
familiares e recomendados, com o propósito de receber igual trato quando
a situação ou mérito, ainda que, para conseguí-lo,
atente contra o profissionalismo e a dignidade do jornalista e contra a
objetividade do meio.
Que muitos de vocês tenham uma
posição vulnerável frente ao Estado em muitas de suas
empresas, razão pela qual recebem pressões econômicas
constantes de diferentes organismos, para que sejam mais conseqüentes com
o que o governo pede de vocês.
Que já são vários os
e as jornalistas que têm sido pressionados, denegridos e perseguidos pelo
poder e acabaram saindo de seus meios com uma obrigatória
renúncia e os improvisados argumentos e escusas por sua saída
sabendo os respectivos donos que o sacrifício momentâneo
será compensado com lucros.
Que também são
vários os donos e diretores de meios que participam em política aspirando
a postos de eleição popular enquanto seguem em frente dos mesmos
, safando negativamente a objetividade e a independência com que deve
funcionar.
Por tudo o que foi exposto anteriormente, os abaixo assinados os exortamos à reflexão e lhes recordamos que uma empresa jornalística se diferencia substancialmente das empresas que vendem seus produtos ou serviços pela função social que desempenha e pelo papel que exercem na formação de uma sociedade informada, o qual é requisito indispensável para a construção da democracia.
Pela gravidade da situação projetada, nos declaramos em alerta permanente e em disposição a dar-lhe seguimento e difusão para sua evolução, para poder definir o papel positivo ou negativo que estão jogando seus meios na democracia e o papel benéfico ou prejudicial dos governos ante os mesmos.
Tegucigalpa, 25 de abril de 2001
Assinam:
Leiticia Salomón, Ramón
Custódio López, Adolfo Facussé, Gernan Leitzela, Bertha
Oliva, Juán Almendáres B., Ramón Oquelli, Rigoberto
Sandoval, Ramón Romero, Julieta Castellanos, Victo Meza, manuel Torres,
Carlos H. Reys, Ricado Rodas, Ramón Salgado, Robert Busse, Lúcila
Fúnes, Gustavo A . Aguillar, Eugênio Sosa, M. Oscar Ávila,
Blas E. Barahona, Carlos Mendez, e seguen as firmas...
Tradução: Daniel Cordeiro Martins
Texto original en: http://www.derechos.org/nizkor/honduras/doc/carta.html